Poupança   ::  26 Maio 2020

O impacto da deflação no pós-covid

Como consequência do Covid-19, estima-se uma queda generalizada dos preços nos próximos meses. Para os consumidores parece ser aparentemente vantajoso, mas na realidade pode vir a revelar-se muito prejudicial para a saúde económica das empresas e consequentemente das famílias.

A deflação surge habitualmente em momentos de crise, devido a uma procura inferior à oferta. A perda de compra dos consumidores leva a um enorme prejuízo para as empresas, que deixam de vender os seus produtos e, consequentemente, reduzem drasticamente os seus lucros sem, na maioria dos casos, conseguirem reduzir os seus gastos.

Quando os preços baixam mas as pessoas mantêm os salários, ganham poder de compra, que lhes permite comprar e poupar mais. O problema é que essa situação não se costuma manter por muito tempo, por várias razões que elencamos abaixo.

Como pode a deflação afetar a economia?

  • A deflação gera desemprego

Se, mesmo com preços mais baixos, muitas empresas não conseguirem vender os seus produtos, inevitavelmente começam a despedir trabalhadores, a cortar custos e extras.

Sem terem uma fonte de receita as pessoas deixam de consumir bens não essenciais e podem mesmo deixar de ser capazes de liquidar as suas dívidas.

  • O peso da dívida aumenta face ao orçamento mensal

Para quem tem dívidas, pode ver as mesmas parecerem mais difíceis de pagar devido à deflação. O valor em dívida mantém-se, mas quem tem, por exemplo, um empréstimo com crédito habitação pode ver a casa desvalorizar-se caso a queira vender e ainda ter menos dinheiro para pagar o crédito, mas o valor do empréstimo mantém-se.

  • O valor dos ativos financeiros cai

O preço de ativos, tais como as ações, pode entrar em queda, o que leva a perdas para quem os detém e desincentiva o investimento. Como a economia funciona como uma bola de neve, a falta de investimento contribui para baixar a quantidade de moeda em circulação, o que, por sua vez, potencia a deflação.

Inflação ou Deflação?

O mundo já seguia uma clara tendência de deflação antes deste cenário de pandemia. Por várias razões:

  • Desde 2013, que a China tem sido um dos principais contribuidores da deflação, com a crescente importância que alcançou na economia mundial, associada à desvalorização da sua própria moeda (em relação ao dólar) e ao facto de possuir mão de obra muito barata.
  • O recurso à tecnologia como a automação e a robótica e o crescimento da inteligência artificial também levaram a uma forte queda do emprego, tornando o planeta mais deflacionário.
  • O mundo já estava a demonstrar sinais de estar no fim de um ciclo económico de expansão. A desaceleração das economias centrais, e da própria China, já era evidente e passava por cima até dos estímulos monetários e fiscais que já estavam em andamento, e sem sucesso, desde 2018. Essa também é uma força deflacionária importante.

A somar a todas estas realidades, com o Covid-19 e a paragem forçada da economia, a queda nos rendimentos e no consumo será muito mais rápida e brutal do que seria sem a pandemia.

O que ocorre atualmente não tem paralelo na história da humanidade.

Modelos que simplesmente replicam situações parecidas no passado são difíceis de replicar na atual situação. Compara-se o Covid-19 com a gripe Espanhola, mas na altura o mundo era diferente, a alavancagem das empresas e dos governos era muito menor e, portanto, a capacidade de recuperação era maior.

A pandemia do coronavírus apanhou o mundo no fim de um ciclo e isso é fundamental para desenharmos o cenário de maior probabilidade de crescimento nos próximos anos.

O chamado “novo normal” deve alterar não apenas decisões imediatas, mais ligadas à subsistência imediata das empresas, mas prever e compreender a dinâmica da economia e da sociedade nos próximos dois a três anos, para que os empresários tomem decisões estratégicas e decidam sobre investimentos essenciais para a sustentabilidade dos seus negócios.

Como consumidor, quais as precauções que pode ter para se proteger nestes tempos de incerteza?

  • Tente pagar todas as suas dívidas

Na iminência de um corte salarial, por exemplo, pode tornar-se muito difícil fazer face a determinados encargos financeiros.

  • Evite gastos desnecessários

Pelo menos até saber as perspetivas para os próximos meses.

  • Mantenha as suas poupanças investidas

Títulos financeiros, como Obrigações ou Certificados do Tesouro, são produtos mais seguros para ter as suas poupanças, especialmente numa altura de crise, dado que, à partida, possuem taxas de juro fixas (embora não com tanto retorno como outros que possuam um maior nível de risco).

  • Salvaguarde e fortaleça sempre o seu fundo de emergência

Esta é uma regra que deve seguir sempre. Ter dinheiro de parte a contar com imprevistos permite ter estabilidade financeira e emocional, mesmo em momentos de crise.

 

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