A grande dependência do sector do turismo e serviços e a baixa capacidade de poupança das PME, podem ser os maiores problemas de Portugal na saída desta crise que a pandemia já está a gerar.
Esta análise é do diretor do Departamento Europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI), Poul Thomsen, que foi um dos negociadores do FMI, em Portugal, na altura da intervenção da Troika (Programa de Assistência Económica e Financeira do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), em 2011, e que exprimiu a sua preocupação com a falta de poupança das pequenas e médias empresas portuguesas e como isso pode ser preocupante no curto prazo.
Thomsen identifica que, em Portugal tal como em Espanha, a grande dependência do turismo pode afetar muito a economia, bem como a existência de um grande número de pequenas e médias empresas que “muitas vezes não têm os recursos para aguentar choques significativos”, disse em declarações à Agência Lusa.
Na fase de recuperação, Poul Thomsen referiu ainda que, por agora, é difícil dizer quem será mais impactado, se os países do norte ou do sul da Europa. Porque no norte existem outro tipo de fragilidades, como a grande dependência das exportações.
O negociador do FMI elogiou ainda o pacote de 500 mil milhões de euros aprovado pelo Eurogrupo: “é um apoio muito forte, que pode até ser aumentado se necessário”.
Os números da crise
Em Portugal, o FMI estima uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, de acordo com as Perspetivas Económicas Mundiais do Banco Mundial.
A economia da Zona Euro deverá ter uma recessão de 7,5% este ano, recuperando depois para um crescimento de 4,7%, e a taxa de desemprego agregada dos 19 países deverá subir dos 7,6% para os 10,4%. Em 2021, estes números deverão estabilizar nos 8,9%.
A economia mundial, segundo o FMI, irá registar uma recessão de 3% em 2020.
Portugal
Em Portugal, o FMI prevê um défice de mais de 7% do PIB para este ano, o que a confirmar-se será o pior resultado orçamental desde 2014, ano em que o país estava a recuperar da crise económica e financeira.
Para 2021 será possível voltar ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, regressando a um défice de 1,9%, abaixo do limite de 3%.
As projeções do Fiscal Monitor indicam uma forte degradação das contas públicas, devido à atual conjuntura de pandemia e das medidas impostas para a contenção do Covid-19.
No último relatório do FMI de outubro de 2019 até se estimava um excedente orçamental de uma décima para 2020. Mas o superavit até chegou mais cedo em março. Mas este mês (abril), as circunstâncias alteram-se completamente.
Este prejuízo estimado nas contas públicas é comum aos outros países da Zona Euro.
Entre os países com défices mais altos está a Espanha com 9,5%, França com 9,2%, a Grécia com 9%, a Bélgica com 8,9% e Itália com 8,3%. Já a Alemanha deverá registar um défice orçamental de 5,5%, bem inferior aos países referidos, mas se considerarmos que a última vez que a economia alemã teve um saldo orçamental negativo foi em 2011, e de apenas 0,9% do PIB, os números deste ano são muito negativos.
Mesmo assim, Portugal continuará com um saldo melhor do que a média dos restantes países europeus, 7,5% segundo o FMI.
O problema português é a, já de si frágil, economia porque haverá uma nova escalada da dívida pública. O FMI antecipa uma subida para 135% do PIB, num cenário em que Portugal se deverá manter como o terceiro país mais endividado da Zona Euro atrás de Itália (155,5%) e da Grécia (200,8%).
A julgar pelos números, serão necessários grandes sacrifícios de todos para recuperar das medidas de confinamento e do apoio estatal a empresas e famílias. O Estado tenta, por um lado, proteger empresas e travar o aumento do desemprego, mas ele é inevitável e isso será também posteriormente um peso para a Segurança Social. O que leva a uma subida da despesa pública para 49,9% do PIB, segundo o FMI.
Em 2014, este valor foi de 51,7% do PIB mas com o recurso a fortes medidas de contenção no período da troika, o que faz antever que agora não será diferente.
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